segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Desconhecido e muito lindo

Já fiz cosquinha na minha irmã pra ela parar de chorar,
Já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto,
Já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo.
Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista.
Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora.
Já passei trote por telefone.
Já tomei banho de chuva e acabei me viciando.
Já roubei beijo. Já confundi Sentimentos.
Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido.
Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro,
Já me cortei fazendo a barba apressado, já chorei ouvindo música no ônibus.
Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer.
Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas,
Já subi em árvore pra roubar fruta.
Já caí da escada de bunda.
Já fiz juras eternas,
Já escrevi no muro da escola,
Já chorei sentado no chão do banheiro,
Já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante.
Já corri pra não deixar alguém chorando.
Já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só
Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado,
Já me joguei na piscina sem vontade de voltar,
Já bebi uísque até sentir dormente os meus lábios,
Já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar.
Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso,
Já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial.
Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar.
Já apostei em correr descalço na rua, Já gritei de felicidade,
Já roubei rosas num enorme jardim.
Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um 'para sempre' pela metade.
Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol.
Já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão. Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú, chamado coração.
E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita: 'Qual sua experiência?'. Essa pergunta ecoa no meu cérebro:
experiência...experiência...Será que ser 'plantador de sorrisos' é uma boa experiência?
Sonhos!!! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos!
Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta:
Experiência? 'Quem a tem, se a todo o momento tudo se renova?

domingo, 14 de agosto de 2011

A viagem do elefante - José Saramago




...Partimos amanhã, disse, Já sabia, respondeu subhro, Virei aqui para me despedir, Voltaremos as ver-nos, perguntou o comandante, O mais certo é que não, viena esta longe de Lisboa, Tenho pena, agora que já eramos amigos, Amigo é uma palavra grande, senhor, eu não sou mais que um cornaca a quem acabaram de mudar o nome, E eu um capitão de cavalaria dentro de quem algo também mudou durante esta viajem, Suponho que por ter visto lobos pela primeira vez, Vi um há muitos anos, quando era pequeno, já mal me lembro, A experiência dos lobos devem mudar muito as pessoas, Não creio que a causa tenham sido eles, Então o elefante, É mais provável, se bem que, podendo compreender mais ou menos um cão ou um gato, não consigo entender um elefante, Os cães e os gatos vivem ao nosso lado, isso facilita muito a relação, mesmo que nos equivoquemos, a contínua convivência resolverá a questão, já eles, não sabemos se equivocam e disso têm consciência, E o elefante, O elefante, já lho disse outro dia, é outra coisa, em um elefante há dois elefantes, um que aprende o que se ensina e outro que persistirá em ignorar tudo, Como sabes tu isso, Descobri que sou tal qual o elefante, uma parte de mim aprende, a outra ignora o que a outra parte aprendeu, e tanto mais vai ignorando quanto mais tempo vai vivendo, Não sou capaz de te seguir nesses jogos de palavras, Não sou eu quem joga com as palavras, são elas que jogam comigo, Quando o parte o arquiduque, Ouvir dizer que daqui a três dias, Vou sentir tua falta, E eu a sua, disse subhro, ou fritz. O comandante estendeu-lhe a mão, subhro apertou-lha com pouca força, como se não quisesse magoá-lo, Vemo-nos amanhã, disse, Vemo-nos amanhã, repetiu o militar. Viraram as costas um ao outro e afastaram-se. Nenhum deles olhou para trás.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Je vais bien, ne t'en fais pas


quinta-feira, 4 de agosto de 2011


Espreitando pela fresta a janela, via as pessoas andando pela garoa, com seus guarda chuvas coloridos, os filhos segurados pelo pulso.
Os postes logo começariam a acender, pensava ela, enquanto observa o céu cinza lá fora, na maioria das vezes sentia-se melancólica, sempre imaginava a casa gelada, os dedos no vidro frio da janela. Com a impressão constante de que a saudade vagava pela casa, abrindo livros, ligando o rádio, fechando a janela... desligando a TV. Ela então se cobria de sua raiva, em baixo dos lençóis, com a desculpa que o tempo estava frio, mentido para mais ninguém além de si mesma.